Wednesday, July 14, 2010

No estúdio com Flagelo Urbano

Pois é malta, mais uma conversa com um artista relevante com ideias a apresentar. Chama-se Oswaldo Capeça mais conhecido por Flagelo Urbano ou Mein Sana in Corpore Sano ou Saint Oficci ou ainda Asilo Clandestino. 

WMO quê que o hip-hop significa para ti?
FUMuitos diriam que é exagero se eu dissesse que o Hip-hop é o ar que respiro, mas esta é a verdade. Hip-hop é o meu equilíbrio, o escape por onde passam as minhas frustrações, medos e sonhos. Para mim o hip-hop é a matriz superior, o hip-hop é o meu Sigmund Freud.
WMComo comparas o hip-hop na altura que começaste e o hip-hop que é feito hoje?
FUA Comparação pode ser feita quer do ponto de vista qualitativo bem como quantitativo. Antigamente havia menos rappers mas muita qualidade e hoje temos mais rappers e pouca qualidade, isto é, hoje temos mais em quantidade e menos em qualidade. Na altura que comecei os manos estavam mais preocupados em informar, dar a informar e formar. Ouvias um som e desde logo sabias quais são os ideais do mano que canta, mas hoje há muita promiscuidade e isso confunde quer o pessoal que nos ouve quer aqueles que querem fazer Rap mas não sabem por onde começar. Claro que hoje temos mais tecnologia e com ela maior qualidade mas a verdade é que a tecnologia tem servido pouco para muitos.
WMO que está a acontecer musicalmente ou artisticamente contigo actualmente
FUNeste momento encontro-me aonde eu sonhei algum dia me encontrar. Os valores que defendo dentro da música estão quase consolidados, cresci muito do ponto de vista da posição que me coloco dentro do movimento, os caminhos porque deve passar a minha música estão bem definidos. Me transformo, transformo a minha música sem comprometer a sua integridade. Por outro lado o lançamento do EP teve um impacto tão forte que fez com que eu entendesse que não cantamos no vazio e que é preciso mais responsabilidade da nossa parte. É preciso forjar um conjunto de valores e princípios que nos devem conduzir enquanto homens e artistas.
WMInfluências musicais e como é que elas se manifestam na tua arte?
FUEssa pergunta é muito difícil de se responder porque com o advento da internet e a relativa acessibilidade aos downloads fez com que eu me viciasse em buscar novas cenas e cada vez mais alternativas. Compro vinís antigos e baixo cenas cada vez mais antigas ainda. Para além do Rap que é o alicerce que sustenta o nosso trabalho eu ouço Jazz, o soul mais tradicional, blues, música africana, bossa nova, samba jazz, world music, nu soul e muitas outras cenas mano. A lista é realmente extensa e acabam de alguma ou de outra forma se manifestando na minha arte porque como produtor uso samples e é para lá aonde vou pegar os sons para samplar, fazer o groove das batidas e sentir como é que cada instrumento se encaixa no conjunto. Já como Mc aprendo sempre com a forma como cada artista constrói os seus temas e de que maneira os aborda.
WMQue importância achas que artistas “conscientes” tem na sociedade? São necessários?
FUEmbora seja as vezes difícil de perceber e enxergar, os artistas “conscientes” desempenham um papel de grande importantância, isto porque a música que fazem representa sempre um contra peso ao “Status quo”. È claro que é apenas um gota de água na imensidão do oceano, mas que sempre produz ou produzirá os seus efeitos na mudança de mentalidade e no modo como algumas pessoas encaram os problemas sociais. Os artistas “conscientes” são também professores que através das suas músicas opinam, orientam, criticam e emancipam. É possível provocar profundas reformas sociais através da música e hoje já podemos sentir que de alguma forma a sociedade se vai paulatinamente abrindo para os discursos que são proferidos pelos artistas “conscientes”. Portanto, os “artistas conscientes” são e sempre serão necessários porque como já disse é necessário um contra peso, uma oposição ao estado de coisas daqueles que vivem ao sabor do seu ego.
WMComo é que achas que é o teu ouvinte? Qual o perfil dele?
FUPara ser honesto não tenho estabelecido qualquer perfil relativamente as pessoas que ouvem a minha cena. Eu apenas escrevo e espero que quem ouvir o som se identifique com ele. Eu acredito que tenho ouvintes dos mais variados estratos sociais, porque a experiência me tem mostrado isso. E acredito também, que isso é muito positivo porque universaliza o meu som.
WMComo descreverias os actual estado do hip hop em Angola actualmente?
FUEncaro com alguma tristeza porque há uma certa desigualdade do ponto de vista da evolução. Na minha maneira de ver os produtores cresceram mais tecnicamente que os mcs, os Djs continuam na cauda e não há grande esforço para termos “Djs” como tal. Embora tenhamos alguns b-boys ainda estamos longe de alcançar grandes progressos nessa área. Mas a verdade é que muita coisa mudou para melhor se compararmos com o movimento que tínhamos a 5 ou 6 anos atrás.
WMO que tens ouvido mais recentemente?
FURecentemente tenho ouvido Maria Gadú, Lenine, Otto, Adão Negro, Dodó Miranda, Dwelle, Kafala Brothers, Ponto de Equilibrio, Teta Lando, Rui Mingas, André Mingas, Gabriel Tchiema, Nach, Racionais Mcs , Conjunto Ngonguenha, Parteum, Mariza Monte, Mariza (Fadista), Camené, Carlos do Carmo, Dealema, Cilvaringz, Nokas, epa mano  tenho ouvido muitas coisas boas, mas desde já fica com essas cenas....

WMO que aconteceu primeiro? Produção ou MC?
FUPrimeiro veio o Mc lá para finais de 1994 em Benguela, e apenas em 2003 comecei a brincar de produzir. Acho que o bichinho já lá estava adormecido e só precisava ser acordado.
WMPara quem já produziu?
FUComo dizem os nossos manos brasucas, já produzi para uma par de manos (risos), dentre eles destacam-se artistas como Mc K, Phay Grande, Kid Mc, San Caleia, Guillhotina Verbal, Tião Mc, Brigadeiro Matafrakuxz, Dnexl, Kota Seba, Spike, Mona Dialla, Krhomiko, Mono e Arséniko.
WMProjectos de música para o futuro.
FUNeste momento estou a finalizar o “Projecto Reunir”, um álbum que tem como objectivo central homenagear aquela que em vida foi uma das figuras mais emblemáticas da música Angolana, falo de Teta Lando. Neste projecto vamos apenas usar samples das suas músicas e ainda não há previsão para a sua saída. Estou a trabalhar também na compilação “Rap de Kintal”, uma compilação que pretende trazer artistas novos de meses em meses e espero também poder tirar o meu álbum ainda este ano que também já se encontra na fase final.

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